Precisamos de um novo sistema de ensino

13-02-2022

Podia estar aqui a enumerar imensos aspetos que se relacionam com a necessidade, cada vez mais urgente, de uma escola diferente, de uma escola adaptada aos tempos que vivemos e mais preparada para os que virão, mas há quem já fale nisto há algum tempo e, para já, vou passar a apresentar duas citações de dois artigos de opinião, que poderão consultar na íntegra nos respetivos links e que falam, precisamente, da necessidade de mudança.

O ensino é para preparar as gerações futuras. Ninguém sabe como será o mercado de trabalho em 2030 e muito menos em 2050, para as crianças que nascem hoje. Mas há algo que todos sabemos: será com toda a certeza um mercado de trabalho muito diferente do de hoje e muito provavelmente exigirá competências muito diferentes das que estão a ser desenvolvidas e pelo sistema de ensino atual. Já sabemos, por exemplo, que globalmente 34% dos empregadores não conseguem recrutar a pessoa certa - por outras palavras, existe já um "mismatch" (um desencontro) entre as competências dos nossos alunos e as necessidades do mercado de trabalho.

in https://observador.pt/opiniao/como-o-sistema-de-ensino-esta-a-falhar-os-nossos-filhos-e-o-que-fazer-a-esse-respeito/

"(...) o papel do professor e a ligação que ele estabelece na sala de aula são insubstituíveis.

Quando muito, há que fazer roturas, quebrar paradigmas. Repensar-se o papel e função do professor. Porque o professor não será mais fonte do saber do aluno. O professor não existirá para "dar aulas", antes para partilhar conhecimento, ser um co-construtor de sentidos.

Deixaremos de ensinar a fazer trabalho de "rotina". Antes, a envolver os alunos no desenvolvimento de competências que as máquinas (ainda) não alcancem. O professor tenderá a exercer funções em sistemas de ensino adaptativos ou "personalizados", adaptando o que é ensinado a cada aluno.

Há ainda que debater e encontrar as respostas possíveis para o que devemos ensinar, como ensinar e quando ensinar, no futuro próximo. E também como articular, ligar o emocional com o digital. E teremos ainda de debater e refletir que competências para a vida deve a Escola estimular.

in https://www.publico.pt/2020/02/06/impar/opiniao/escola-hoje-amanha-desafios-1903125

  Grande parte dos programas escolares, além de serem demasiado extensos, já não servem a gerações mais novas, já não motivam, já não se adaptam às crianças e jovens que precisam de ganhar novas competências para o mercado de trabalho que vão integrar. 

A falta de pré-requisitos é gritante e isso revela-se como uma bola de neve, vai ficando cada vez maior à medida que rebola, ou seja, o aluno que não ultrapassou as suas dificuldades e que foi passando "à tangente", vai estar sempre "coxo" no seu percurso escolar. 

Já não temos de debater ou refletir sobre, porque já está quase tudo estudado, já há muita teoria. Há que pegar nos programas, reduzi-los ao essencial, simplificá-los, adequá-los ao século XXI, a esta nova era, há que reunir pessoas do terreno, ou seja, professores experientes, conscientes, realistas e com vontade de mudança, há que perceber do que realmente precisamos nas escolas. Há que entender que os alunos já não são o que eram (ver artigo). 

Hoje em dia, os manuais são muito mais atrativos, mas tentam colocar "o Rossio na rua da Betesga"; as editoras fazem um ótimo trabalho, mas os conteúdos já não servem, principalmente em algumas disciplinas de maior estudo.

Neste momento, além de precisarmos de rentabilizar a formação daqueles que já estão na escola, conhecê-los e querer conhecê-los melhor, aproveitando as suas mais-valias, o seu currículo em prol da motivação e do sucesso educativo, precisamos, também, de outros intervenientes: 

- Psicólogos com formação em vertentes holísticas

- Terapeutas da fala

-  Profissionais de coaching e motivação

- Dinamizadores de atividades temáticas

- Palestrantes sobre diversos conteúdos

- Técnicos de saúde natural

- Nutricionistas

- Gestores educacionais

- Facilitadores de atividades de relaxamento

- Entre outros

(...) quando nós chegamos à contratação de pessoas para uma empresa, é muito curioso ver o que dizia o manual de recursos humanos da Apple, traduzido depois no livro The Macintosh Way, publicado em 1990. As principais características que nós procuramos nos trabalhadores têm muito pouco a ver com os currículos. Têm a ver com o facto de terem ou não paixão, de terem energia, de terem a capacidade de lidar com o stresse e com a ambiguidade, de terem autoconfiança, de terem capacidade de trabalhar em grupo, de terem capacidade para liderar grupos e de terem capacidade de concretização. 

in https://www.cnedu.pt/content/antigo/files/pub/CurrSecXXI/CurrSecXXI5.pdf

A tutela quer que se trabalhe sobre projetos sobre todos os tipos os temas, mas com o conjunto de conteúdos programáticos que há para cumprir ao longo de um ano letivo, resta muito pouco tempo para investir realmente nesses temas dos quais exigem projetos e mais projetos às escolas, mas que, de facto, são os mais importantes e era sobre estes que a tutela deveria realmente investir nas escolas e permitir que, a partir deles se pudesse trabalhar tudo o resto, ou seja: na articulação curricular, na educação para a não-violência, na educação para a saúde, as competências socio-emocionais, no trabalho em equipa, na educação para os valores e os afetos, na consciência ambiental e planetária, na consciência alimentar, na competitividade, no raciocínio lógico, no pensamento e espírito crítico, na persistência, na criatividade, na liderança pessoal, na capacidade de concretização, na tecnologia (sabendo lidar com a mesma de forma positiva) e na autonomia.

Acima de tudo, formar professores, já no ativo, mas principalmente desde a sua formação de base. Os professores precisam de formação em todas as áreas já enunciadas e de adquirir novas competências. A indisciplina, a liderança pessoal, o coaching, a motivação de alunos e a criação de valores humanos nas escolas seriam grandes prioridades. Sem estes e sem conseguir motivar uma turma não é possível fazer mais nada.  É a mais pura das verdades.

Precisamos de profissionais mais conscientes e com vontade de uma real transformação. Há que perceber, contudo, que toda a transformação ocorre, em primeira instância, dentro de cada um de nós. Por isso, este artigo é um apelo a todos os profissionais que queiram mudança, que tenham a coragem de avançar, sempre com pequeninos passos, passo a passo. Precisam-se agentes de mudança!

(...) com base em Nicholas Negroponte, que os professores inteligentes estão a aperceber-se de que aprender vem da paixão, não da disciplina: "learning comes from passion, not discipline" (Prensky, 2007, p. 3). (...) segundo Prensky, o professor do século XXI também ensina rigor intelectual, mas primeiro trabalha com as crianças para definir objetivos educacionais. Ao contrário do que se faz com o paradigma tradicional, demasiado focado no manual e no uso de velhos instrumentos.

" (...) deverá partir-se de questões abertas e de problemas reais. Deve utilizar-se a realidade como fonte privilegiada de informação; questionar as conceções vulgares; criar novas propostas de interpretações científicas; fomentar a cooperação, o debate, a sinergia de recursos e enfatizar a concentração numa área de trabalho.  

(...) os Programas poderiam ser concebidos mais como um conjunto de problemas e situações relevantes, disciplinares e interdisciplinares, do que como conjunto de fragmentos disciplinares justapostos. O conteúdo disciplinar não deverá ser um fim em si mesmo, mas sim um meio para ajudar a enfrentar situações problemáticas do dia a dia. Neste sentido, na Escola do século XXI, menos é mais. Isto significa que deve apostar-se nos conteúdos realmente importantes, deve passar-se dos dados/informação às ideias e à importância dos esquemas mentais. Deve partir-se da concepção holística das experiências e saberes, das habilidades, das atitudes e das emoções, que devem ser entendidos no seu caráter interdisciplinar com os conteúdos educativos. O Currículo deveria apresentar-se flexível e emergente, de enfoque progressivo e adaptado, de modo a superar-se a fragmentação. Isto significa que a atenção deveria recair na associação entre experiência e saber, em que o conhecimento se constrói em ação e reflexão sobre a ação. Como alerta António Nóvoa, "A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência." (Nóvoa, 1992, p. 13).

(...)

Marc Prensky (2009), por sua vez, ao aludir às competências essenciais para o século XXI, destaca várias macrocompetências, tais como: tentar descobrir a forma correta de agir; agir; trabalhar com os outros; trabalhar de forma criativa; melhorar. Daqui emergem várias microcompetências, de que destacamos: pensar criticamente e fixar objetivos; planificar e personalizar; interagir com outros e em grupo (especialmente usando a tecnologia) e comunicar culturalmente; adaptar e pensar de forma criativa. Finalmente, é importante saber refletir, correr riscos calculados e pensar a longo termo. 

O professor do século XXI deverá ser ativo e saber pensar, saber fazer pensar, saber dizer, saber fazer dizer, saber fazer, saber fazer fazer, querer fazer, querer fazer querer. Ocupando o professor um papel central em todo o processo de mudança educativa e face aos saberes emergentes, é necessário criar condições para uma formação contínua de qualidade.  

in https://exedra.esec.pt/wp-content/uploads/2015/07/03-25-36-LOLA-xavier.pdf


Sílvia Neves - Blog pessoal
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